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Michel Forst: 'É muito perigoso ser um ativista ambiental na América Latina: se alguém quiser te matar, é só pagar US$ 50 a um assassino de aluguel'

Dec 16, 2023Dec 16, 2023

Desde que Michel Forst foi contratado em junho passado para se tornar o primeiro Relator Especial das Nações Unidas para Defensores Ambientais, ele não parou de trabalhar para garantir o apoio de políticos e da sociedade civil para proteger esses ativistas ameaçados. O advogado francês, que se reuniu com líderes políticos e ambientalistas em Madri na semana passada, está ciente dos riscos que correm. Ele foi relator especial da ONU sobre a situação dos defensores de direitos humanos entre 2014 e 2020 e lembra como cinco defensores ambientais foram assassinados após se encontrarem com ele na Colômbia em 2018. "Aconteceu no final da minha visita, não porque eles se encontraram comigo, mas simplesmente por causa de sua dedicação."

É por isso que ele acreditava que era necessário um relator especial focado na proteção desses ativistas. O cargo foi criado há um ano no âmbito da Convenção de Aarhus, tratado internacional ratificado por 46 países — principalmente europeus — sobre a participação cidadã em questões ambientais. Esta convenção fornece a Forst ferramentas juridicamente vinculativas para forçar os estados a agir para impedir a agressão contra defensores ambientais, que Forst diz enfrentar "os ataques mais violentos", particularmente na América Latina, mas também nas Filipinas e na África. “Há ataques crescentes contra defensores do meio ambiente e ativistas climáticos na Europa”, alerta.

Pergunta. Como você pode proteger os defensores ambientais de sua posição?

Responder. Através de um mecanismo de resposta rápida com o objetivo de responder imediatamente quando a ONU é informada de que alguém está sendo atacado em um local de defesa do meio ambiente. E, embora opere apenas nos países signatários da Convenção de Aarhus, é importante saber que ela tem um alcance extra. Isso significa que quando uma empresa que opera no exterior tem sua sede em um dos países que fazem parte da convenção, os defensores daquele país também podem vir até mim para buscar proteção. Deixe-me dar um exemplo: se há uma empresa espanhola com sede em Madri que opera na Colômbia, no Peru ou em outro lugar da América Latina, desmatando ou ameaçando defensores do meio ambiente, então os defensores desses países vêm até mim e buscam proteção.

P. Como eles podem vir até você?

A. Por meio de um formulário no site das Nações Unidas. Minha equipe investigaria a situação. Verificaremos novamente para garantir que não sejamos mal informados ou manipulados. Então eu começaria enviando o que chamamos de carta de indicação ao governo para solicitar informações. Chamamos assim porque não queremos acusar ninguém. A carta é mantida em sigilo por até 60 dias, e o estado tem 60 dias para responder. Também podemos enviar cartas para empresas, dependendo do caso. Depois de 60 dias minha carta e a carta do estado ou da empresa seriam públicas no site da ONU, o que tem um impacto enorme, principalmente para as empresas.

P. Porque é ruim para a imagem pública deles?

R. Exatamente. Tem implicações enormes porque as empresas não gostam de ver seus nomes publicados. Por exemplo, um banco de investimento pode decidir retirar o financiamento de um determinado projeto se estiver relacionado a um caso de ataques ambientais.

P. O que acontece se alguém não puder esperar 60 dias porque está em risco iminente?

R. Se formos informados de que alguém está em situação muito perigosa, entrarei em contato com os governos para que sejam adotadas medidas de proteção imediata, por precaução, sem checagem dupla. É importante notar que a Convenção de Aarhus é um instrumento juridicamente vinculativo, ao contrário dos mandatos de outros relatores, que se baseiam em resoluções não vinculativas da ONU. Os Estados têm a obrigação de cumprir e respeitar todas as disposições desta convenção, o que me dá poderes para fazer muitas coisas.

P. Quantos casos você revisou desde que começou no cargo?

R. Estamos recebendo reclamações principalmente da Europa, embora também estejamos começando a receber reclamações da América Latina, porque há muitas empresas européias operando lá. Até agora, enviamos algumas cartas a vários países da UE e ainda estamos aguardando as respostas para publicá-las no site